Movimento Geração 68

A luta contra a ditadura militar marcou profundamente a chamada Geração 1968, naquele memorável ano que foi chamado de “o ano que nunca terminou”, quando estudantes e trabalhadores se manifestaram nas ruas contra o regime instalado em 1964. Os militares responderam com mais repressão, com o AI-5, levando muitos setores da oposição a participar da resistência armada contra a ditadura. Muitos foram presos, torturados e assassinados; outros foram exilados. Mas a nossa luta permitiu a redemocratização do país e a promulgação de uma nova Constituição em 1988.

Campanha pelas Diretas Já, em 1984. caminhada em passeata da Cinelândia até a Candelária. Uma chuva de papel picado caía sobre os manifestantes.

Uma história de amor nos tempos da ditadura

Por Ivanisa Teitelroit Martins


…Tempos duros em que era preciso manter firmeza ideológica para não por em risco a vida de companheiros. Franklin confiou em mim a ponto de entregar sua vida em minhas mãos…

Quando conheci o Franklin, que se chamava Beto, num aparelho na rua Prado Júnior, no Rio de Janeiro, não sabia quem era ele. Ele se apaixonou por mim e 15 dias depois apareceu no meu apartamento em Laranjeiras e me mostrou fotos da família e do filho que nunca mais encontrou. Depois nos encontramos no antigo prédio da UNE, onde eu fazia um curso de teatro, além de fazer um mestrado em psicologia na PUC com bolsa de estudos.

… Somente eu conhecia seu endereço e seu paradeiro. Nem o comitê central do MR-8 o sabia. Paguei com a bolsa de estudos e continuei o mestrado até decidir morar com ele. Retomei meus estudos na PUC de São Paulo…

Beto me convidou para conhecer sua casa em São Paulo. Marcamos um ponto na Avenida São João. Ele me levou até o seu quarto em Vila Maria, num cortiço cheio de baratas, pulgas e carrapatos. Para tirá-lo de lá, aluguei um pequeno apartamento em Moema que só tinha um fogão, uma máquina de escrever Remington, um colchão no chão e um baú de vime onde ele guardava os documentos do MR-8 e me pedia para não abrir.

… Para chegar aos aparelhos éramos vendados e nos faziam “cabra-cega” para perdermos o sentido de direção. Sabíamos o mínimo possível para se fôssemos presos não ter o que dizer…

Somente eu conhecia seu endereço e seu paradeiro. Nem o comitê central do MR-8 o sabia. Paguei com a bolsa de estudos e continuei o mestrado até decidir morar com ele. Retomei meus estudos na PUC de São Paulo e dava aulas de Piaget e Wallon na FMU. Enquanto isso, militava. Para militar fui treinada em questões de segurança: chequeios e contra-chequeios e cobertura de pontos.

Militava na periferia na Lapa quando, junto com o PCB, fundamos o diretório do MDB. Fui assessora sindical para questões do movimento de mulheres com as companheiras operárias químicas, metalúrgicas e gráficas. Fiz junto com Franklin, em aparelhos, o jornal clandestino, com régua e compasso e mimeógrafo. Para chegar aos aparelhos éramos vendados e nos faziam “cabra-cega” para perdermos o sentido de direção. Sabíamos o mínimo possível para se fôssemos presos não ter o que dizer. Tempos duros em que era preciso manter firmeza ideológica para não por em risco a vida de companheiros. Franklin confiou em mim a ponto de entregar sua vida em minhas mãos.

Isso ninguém esquece

Ivanisa Teitelroit Martins, publicado em 2018

O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980, recebendo o livro “60 anos do golpe”.