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Prefácio
O fazer artístico e a psicanálise
Godofredo de Oliveira Neto
Fazia uma pequena correção num trecho de meu romance Esquisse, versão francesa, sobre as andorinhas no mar – “les hirondelles de mer échangent em plein vol des morceaux de poisson, elles forment une communauté surprenante”.
Lacan se refere, no seu Écrits, às andorinhas do mar para demonstrar a existência de um comportamento simbólico no reino animal para chegar à ideia de festa ritualística de “passation” num ágape totêmico humano. Nesse instante me chegou o livro de Ivanisa Teitelroit Martins, Psicanálise, uma experiência do inconsciente. Um denso, percuciente e extraordinário estudo sobre psicanálise para estudiosos do tema, mas não só; um livro importante para os amantes de literatura e de cultura em geral. Chapeau!, como diria Lacan.
Log de cara, no primeiro capítulo, A lógica do inconsciente, leio da frase de Lacan A angústia é um excesso de real. De Gide, dos Moedeiros Falsos, até os filmes de Hitchcock, a psicanálise é personagem. Freud já se debruçara ferozmente sobre textos literários. Lacan precisa que a arte serve como uma restauração dos defeitos de construção do ser humano.
Um defeito de fábrica. O real não é para ser sabido, escreve Invanisa no capítulo Sintoma e real.
Ora, o analista não opera com a consciência da razão porque o inconsciente não conhece a contradição. Ivanisa esclarece o leitor e leitora no seu Apagamento do sujeito. Pensei, durante a leitura desse maravilhoso ensaio, na tragédia de Sófocles: a morte do pai, a posse da mãe e a cegueira que se segue à descoberta do ato. Blanchot adentra essas veredas em seus textos. Ivanisa o cita na obra.
O discurso sobre o EU dos psicanalistas abre uma janela imensa para o prazer do texto (Barthes) na medida em que autoriza as transgressões e os desejos recalcados do leitor e da leitora. “A língua dorme em seu sentido, como fazê-la despertar o real?”, lê-se no capítulo O discurso analítico e o dizer. No romance Menino oculto trabalhei particularmente esse desafio. A narrativa da psicanalista autora da obra em análise me trouxe uma potente luz, quão potente são as suas reflexões teóricas, sobre o meu próprio fazer literário.
Psicanálise: uma experiência do inconsciente enfatiza, no capítulo Da letra à topologia, e relembra a passagem do ideograma a palavras de forma didática e saborosa, uma característica, aliás, de todo o texto.
Derrida, no seu De la grammatologie, me explicava que a escritura não é um instrumento de transmissão de uma palavra anterior que ela apenas colheria. Que se liberte o significante gráfico, bradava ele com voz suave.
Cabe a distinção face a face do “dentro”, onde está presente o pensamento, e o “fora”, quando a escritura entra em cena.
No capítulo Psicanálise, uma experiência do inconsciente em ato, eu, como ficcionista, me reconheço e me regozijo e me consolo por não estar só: (A analisada é uma cineasta). “É outro trabalho que não é o estudado nem o observado, algo que ficou guardado, que talvez o inconsciente traga, algo que ficou de fora.
Não é algo que acontece toda hora, dificilmente, mas …é …está suspenso … para poder retomar esse tipo de texto acho que eu consigo perder o tempo para não perder o tempo, tem um desejo de criação constante que não costuma parar, com possibilidade de eu levar para vários lugares (…). Será que eu dava conta de elaborar um melodrama à Almodovar?” Ufa, exclamo eu.
Psicanálise, uma experiência do inconsciente é de leitura obrigatória.
Membro da Academia Brasileira de Letras. Sexto ocupante da cadeira nº 35 na sucessão de Cândido Mendes de Almeida. Autor de romances como O Bruxo do Contestado, revelação do ano de 1996, e Amores Exilados, aclamado pela crítica no ano de 2011.
Visão geral do livro:
É certo que a crise em Psicanálise pode ser saudavelmente aceita como permanente. Um dos modos de aproximação ao estudo de uma ciência, certamente o mais produtivo, é o da abordagem crítica em referência a uma “prova de refutabilidade” que diz da vitalidade e permanência de um campo de estudos na sua renovação teórica. O contrário seria abordar uma ideologia, ou uma hierarquização de valores estratificada, que só solicitaria argumentos para confirmação de seus pressupostos inquestionáveis. No jogo dialético entre achados clínicos e pesquisa teórica, no diálogo entre o clínico da práxis psicanalítica e o teórico que reflete sobre esta prática, faz-se a história do desenvolvimento de uma ciência.
Psicanálise: uma Prática Teorizada: Tributo a Horus Vital Brazil
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